sexta-feira, 24 de maio de 2013

Relações simbólicas no / com mundo: Minha vida é sua. Sua vida é minha. Nossa vida é nossa às vezes.



Por que as minhas ações ou a falta delas te incomodam de uma forma que faz você reivindicar com ares de rei ou de imperador as minhas mudanças ou as minhas permanências? Gostaria de convidar você para deixar de viver de mim, mas sei da impossibilidade desta ação. A impossibilidade reside no seguinte: “Se um dia fui fonte da tua observação, serei eternamente conteúdo da tua construção. Sua vida sem minha presença não será mais possível! Pode ser de uma conotação ou denotação triste a intuição da tua eterna presença, mas preciso desta contestação na elaboração dos meus eventos diários”.  (RANOLI, 2012)
A separação de corpos é apenas uma branda separação em um universo que é ordenado por símbolos. O símbolo, em nossa sociedade, detém um poder tão amplo que faz de todos os seres humanos excelentes predadores de si. O sistema simbólico tem seu exímio poder de autodegeneração. Toda simbologia humana é uma canibalização reflexiva. Pertencer ao sistema simbólico humano é o único desprazer da existência. O que seria de mim sem está ideia de símbolo?
Eu seria eu e seria o outro. Seria um intermédio inclassificável. Mas mesmo sem classificação seria um ser. Exigiria ser alguém ou algo de alguma forma, pois a compreensão do símbolo é uma realização subsequente da existência. Eu apenas compreendo. Compreender não é verdade solidificada. Apesar de compreender a subsequência dos símbolos, infiro maneiras variadas de realização do processo simbólico na minha e na tua existência. A individualidade sempre será uma vida plural. Meus esquemas linguísticos (com a vontade de universalizar) serão esquemas de outros que nunca conheci. Eu não precisarei conhecer a totalidade para ter o pleno da minha existência.
Muitos silêncios existiram para eu fazer esta composição hoje. Silêncio é uma dos vocábulos da língua portuguesa que coleciono. Você coleciona alguma coisa? Eu coleciono palavras. Colecionar palavras é a minha coerência de identificação com o mundo. As palavras da minha coleção são seres que compartilham e influenciam-me no processo de interação e socialização com o mundo.
Minha escrita idiossincrática é de difícil leitura. Imaginas a realização da composição escrita? É quase impossível fazer fichamento e reproduzir Gênese de interpretação. Essa é minha participação na alteridade do mundo. A alteridade é a capacidade de respeitar o outro como diferente. Respeitar é acreditar, proporcionar e visualizar no outro uma diferente ramificação de existência. Alteridade é uma possibilidade de transgressão de si pertencente a todos. O outro é o prolongamento da sua existência (sempre começa, mantém e termina assim) .  A tua existência é uma pletora de prolongamentos de existências alheias. Prolongamentos não se realizam no isolamento. Isolar-se da vida não é fuga nem a falta de vontade de viver, pois nos isolamentos há vidas  e  encontros com uma contemplação que você acredita ser apenas sua. Como diz Mário de Sá Carneiro, “você não é você nem o outro. Você é qualquer coisa de intermédio”. A alteridade diversifica o sistema simbólico e convida a você a participar e estabelecer uma convivência inquieta nas minhas, nas suas e nas nossas fluidas - cristalizadas relações no / com mundo.

Rave de Ranoli

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