A
Paixão Segundo G.H
_ _ _ _ _ _ estou procurando, estou
procurando.
É que um mundo todo vivo tem força de um
inferno.
Só eu saberei se foi a falha necessária.
Depois dirigi-me ao corredor escuro que
se segue à área.
Então, antes de entender, meu coração
embranqueceu como cabelos embranquecem.
Foi então que a barata começou a emergir
do fundo.
Cada olho reproduzia a barata inteira.
Eu chegara ao nada, e o nada era vivo e
úmido.
Perdão é um atributo da matéria viva.
Eu fizera o ato proibido de tocar no que
é imundo.
Então, de novo, mais um milímetro grosso
de matéria branca espremeu-se para fora.
Finalmente, meu amor, sucumbi. E
tornou-se um agora.
Pois o que eu estava vendo era ainda
anterior ao humano.
Neutro artesanato da vida.
Nem mesmo o medo mais, nem mesmo o susto
mais.
Dai-me a tua mão:
A vida pré-humana divina é de uma
atualidade que queima
Eu procurava uma amplidão.
E voltei-me de chofre para o interior do
quarto que, na sua ardência, pelo menos não era povoado.
Mas há alguma coisa que é preciso ser
dita.
Pois em mim mesma eu vi como é o
inferno.
O inferno é o meu máximo.
Eu estava comendo a mim mesma, que
também sou matéria viva do sabath.
Ela sentiria a falta do que deveria ser
seu.
Por que a coisa nua é tão tediosa.
Não devo ter medo de ver a humanização
por dentro.
Aumentar infinitivamente o pedido que
nasce da carência.
O gosto do vivo.
Nossas mãos que são grossas e cheias de
palavras.
E que não contei tudo.
O divino para mim é o real.
Falta apenas o golpe de graça – que se
chama paixão.
A desistência é uma revelação.
A vida se me é, e eu não entendo o que
digo. E então adoro. _ _ _ _ _ _
Clarice
Lispector
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